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24 de março de 2011

Transtorno Bipolar - entrevista de Veja com a atriz Linda Hamilton



"Eu gostaria que as pessoas com doenças mentais pudessem experimentar a vida que levo hoje. É claro que tenho dias ruins, como todo mundo. Mas sei que mesmo os maus momentos podem ser bons, desde que se aprenda com eles. Minha infelicidade, no fim das contas, me fez uma pessoa bem melhor. O meu sucesso como atriz um dia será esquecido. Mas o sucesso que obtive como ser humano permanecerá para sempre comigo".

Além da entrevista na Revista Veja, vale a pena conferir a entrevista dela no Programa da Oprah em http://www.oprah.com/spirit/Depression-Takes-Its-Toll/1


A atriz americana conta como o distúrbio bipolar afetou sua vida pessoal e profissional e fala de sua difícil recuperação.

Por Anna Paula Buchalla

Nos anos 80, a atriz americana Linda Hamilton alcançou o estrelato como a protagonista da série cinematográfica O Exterminador do Futuro. No segundo filme, para espanto dos espectadores, ela surgiu com um corpo musculoso obtido à custa de treinamentos que lhe consumiam seis horas por dia. Mais do que fruto da preparação para o papel da obstinada personagem Sarah Connor, que combatia andróides enviados do futuro para matar seu filho, a forma física de Linda era uma das facetas de um distúrbio bipolar não diagnosticado. As vítimas da doença alternam momentos de extrema euforia e de profunda depressão, e a ginástica obsessiva compunha um quadro em que também estavam presentes comportamentos autodestrutivos, uso de drogas, abuso de bebida e rompantes de violência. O inferno pessoal de Linda só chegou ao fim quando ela teve a doença diagnosticada e começou a tratar-se com remédios. A atriz credita ao distúrbio bipolar o fim de seus dois casamentos, um deles com o diretor James Cameron. Hoje, aos 49 anos, mãe de dois filhos e vivendo em Malibu, na Califórnia, ela não tem mais os músculos de Sarah Connor. Mas desenvolveu um tipo diferente de força, que a motivou a falar publicamente de sua doença. "Estou bem agora. Mas foram vinte anos de luta e sofrimento para chegar até aqui", disse Linda nesta entrevista a VEJA.

Veja – Por que a senhora resolveu falar publicamente sobre a sua doença?
Linda – Passei vinte anos da minha vida lutando contra uma doença que eu simplesmente não conseguia entender. Foram muitos diagnósticos errados até chegar à recuperação. Passou a ser muito importante para mim dividir – não a tristeza, o choque e o mal-estar em que estive mergulhada boa parte da minha vida –, mas o lado bom do tratamento, que é encontrar o equilíbrio. Achei que podia salvar as pessoas que como eu sofrem de doenças mentais.


Veja – A senhora usa remédios?
Linda – Uso, mas por muito tempo resisti à medicação. Tinha muito medo do que a química poderia causar no meu processo criativo. Achava que ela comprometeria minha profissão e que eu me sentiria inexpressiva e diminuída como pessoa. O que aconteceu foi o oposto. É claro que não foi fácil, no começo, tomar o comprimido todos os dias. Mas hoje vejo que a minha vida mudou completamente. E continua mudando. Abriu-se um incrível mundo novo para mim.


Veja – Como é saber que se depende de uma medicação para o resto da vida? Isso a incomoda?
Linda – De jeito nenhum. Inclusive porque conheço bem a alternativa: viver como eu vivi durante quase quarenta anos, no limite da loucura. Horrível seria saber que eu teria de conviver com uma doença não diagnosticada e não tratável pelo resto da minha vida. Não sei de onde tiraria forças para conseguir isso. Remédio e tratamento psicológico não são um problema para mim. São a solução.


Veja – Quantos anos a senhora tinha quando foi diagnosticada com distúrbio bipolar?
Linda – Eu tinha 37 anos. Dez anos antes, havia sido diagnosticada erradamente como depressiva, o que acontece freqüentemente com quem tem distúrbio bipolar. A diferença é que o paciente bipolar alterna períodos de euforia com outros de depressão. E a doença é tão difícil de ser diagnosticada justamente porque ninguém vai ao médico para dizer: "Doutor, eu me sinto incrível. Posso resolver todos os problemas do mundo". O problema maior do diagnóstico errado é que, quando um paciente bipolar é tratado como se fosse apenas um depressivo, ele deixa de passar por períodos de euforia. Isso complica ainda mais o quadro.


Veja – Como eram os seus episódios de euforia?
Linda – Eu basicamente não precisava dormir. Achava que tinha as melhores idéias do mundo para qualquer tipo de assunto. Que podia levantar bandeiras de campanhas impossíveis. Nesses momentos, eu era uma pessoa feliz e excitadíssima pelo fato de estar viva. Trata-se de uma grande explosão de energia, só que irreal. E permanecer nesse estado, posso garantir, não é seguro. A depressão que se segue, muitas vezes somente uma hora depois da mais completa euforia, costuma ser desesperadora. Houve momentos terríveis, como no nascimento do meu segundo filho, quando tive depressão pós-parto. Comecei a ter alucinações – vinham à minha mente imagens dos meus filhos machucados, sangrando. Achava que não poderia sair de casa ou eles ficariam em perigo. Era um controle obsessivo. Tinha de estar ao lado deles o tempo todo, como se só eu fosse capaz de mantê-los seguros. Àquela altura, já haviam passado pela minha casa mais de treze babás.


Veja – A senhora teve pensamentos suicidas?
Linda – Não exatamente, embora houvesse vezes em que eu simplesmente não quisesse mais viver. Num momento de depressão extrema, tive ímpetos de me atirar de um carro em movimento. Não necessariamente para me matar, mas para fugir de uma situação muito dolorosa.

Veja – A senhora se envolveu com álcool e drogas. As pessoas à sua volta percebiam que estava usando substâncias químicas?
Linda – Eu já sou, normalmente, uma pessoa agitada. Nos anos 80, eu me viciei em cocaína e não era todo mundo que percebia que eu estava sob efeito de drogas. Mas acho que meu problema maior foi mesmo com o abuso de álcool. Na maioria das vezes, podia beber o dia e a noite inteiros sem que ninguém percebesse que eu estava passando do limite.

Veja – É estranho que ninguém percebesse.
Linda – Talvez eles percebessem, mas o fato é que não se preocupavam. Meus amigos falharam comigo nesse aspecto. No geral, as pessoas me viam alta e me incentivavam a beber ainda mais. Mais um pouco e me inscreveriam em um concurso de bebidas. Afinal, eu era uma moça festeira. Era divertida e agitava as noites. Ninguém via isso como um problema.

Veja – Quando a senhora teve a sua primeira crise depressiva depois de tornar-se atriz?
Linda – Foi num de meus primeiros trabalhos, um seriado para a TV, em 1980. Estava fazendo um telefilme chamado Rape and Marriage (Estupro e Casamento), com Mickey Rourke. Ele era, na época, uma estrela em ascensão. O meu papel era muito difícil, havia muita tensão nas filmagens. Foi muita pressão sobre mim. Fiquei esgotada e quase pus tudo a perder.


Veja – A senhora conquistou a fama com a série O Exterminador do Futuro. No segundo filme, sua forma física chamou muito a atenção dos espectadores. Os músculos definidos eram sinal de uma boa fase pessoal?
Linda – Não mesmo. Na verdade, eu estava vivendo um período muito complicado. Interpretar aquele papel me causou um imenso desgosto pessoal. Sarah Connor, a protagonista, era alguém que havia perdido tudo: a mãe, a colega de quarto, o amante... Eu permanecia grudada na personagem e, por causa disso, entrei num estado de depressão severa. Não sabia como me proteger dos sentimentos que vinham do meu trabalho e que se misturavam à vida real. Se um ator não consegue separar uma instância da outra – e, quanto a mim, isso se devia ao distúrbio bipolar –, ele enlouquece. Há o caso de uma atriz que, depois de fazer uma cena extremamente intensa, foi acometida de cegueira histérica. O diretor do filme teve de ficar duas horas com ela no camarim para convencê-la de que podia enxergar. No meu caso, infelizmente, a depressão durou muito mais do que duas horas.

Veja – A ginástica pesada também fazia parte do quadro de distúrbio bipolar?
Linda – Na verdade, o meu lado maníaco é maravilhoso para quem me contrata. Eu me empenho a fundo em todos os papéis. Mas o que aconteceu naquela época foi que, durante a preparação para o filme, eu me tornei compulsiva em relação aos exercícios. Fazia seis horas de ginástica pesada por dia. Logo depois do filme continuei na mesma toada. Treino até hoje, mas jamais naquele nível.

Veja – Como foi a sua infância?
Linda – Foi uma infância normal até certo ponto. Perdi meu pai, que era médico, quando eu tinha 5 anos de idade, em um acidente de carro. Também não foi exatamente uma boa experiência para mim ter uma irmã gêmea idêntica. Eu tentava o tempo todo fazer coisas para me diferenciar, para criar a minha própria identidade. Exceto por esses dois fatos, tive uma infância tranqüila. Mas havia também um pouco de tristeza e solidão na minha vida. Eu me sentia diferente das outras pessoas. Já era a depressão, mas ninguém se dava conta.


Veja – Seu pai também foi diagnosticado como bipolar.
Linda – Sim, mas naquele tempo o distúrbio era chamado de psicose maníaco-depressiva. Ele tinha alterações de humor extremas. Certamente há um componente genético nessa doença. E as estatísticas mostram isso. Depois da morte do meu pai, tive meu primeiro grande episódio maníaco: eu me confortava com a comida. Tornei-me uma glutona compulsiva. Cheguei a pesar mais de 70 quilos na adolescência.

Veja – Sua irmã gêmea, Leslie, também é bipolar?
Linda – Não posso fazer esse diagnóstico, mas há muitas evidências que indicam que ela também precisa de atenção. Leslie sofre com doenças crônicas do sistema imunológico. Talvez seja uma somatização do distúrbio.

Veja – A senhora fez terapia durante vinte anos. Por que parou?
Linda – Minha vida está estável, feliz, serena. Não sinto necessidade. Arrisco dizer que me conheço muito bem. Mas, para chegar até aqui, tentei terapias de todos os tipos. Algumas foram desastrosas, inclusive por falta de experiência e disposição minha. Fui a um terapeuta, logo depois que meu primeiro filho nasceu, por indicação de uma amiga. Após três sessões, abandonei o consultório. Não consegui entender uma palavra do que aquele homem queria me dizer. Hoje, olho para trás e entendo 100% do que ele tentava me fazer ver. Ele queria dizer que cada um cria a sua própria realidade.

Veja – Como é o seu relacionamento com os pais de seus dois filhos – o ator Bruce Abbott e o diretor James Cameron?
Linda – Hoje é maravilhoso. E não falo da boca para fora. A gente só se dá bem porque trabalha muito para conseguir isso. Quando se tem filhos, não se quer vê-los assustados, arruinados, destruídos pelo seu mau comportamento. Com as crianças, a gente descobre que alguém tem de ser o adulto e não é justo pedir a elas que assumam esse papel. Nesse sentido, ter filhos foi uma bênção na minha vida. Meus ex-maridos são grandes parceiros. Embora tenhamos uma história de mágoas e abandono, as coisas para funcionar precisam de uma atitude positiva. Um dia meu filho me perguntou: "Você se divorciou do meu pai?". Ele não sabia o que tinha acontecido porque o pai dele nos deixou antes de ele nascer. Respondi que sim, e ele me disse: "Mas vocês não se divorciaram tanto assim!". Decidi que, dali em diante, esse seria o meu código: divorciar-me, mas não levar a separação assim tão longe. Esse não é um jeito bom de viver?


Veja – A senhora atribui o fim dos seus casamentos ao seu comportamento imprevisível?
Linda – Há sempre duas pessoas envolvidas em um fracasso. Meu primeiro marido, Bruce, foi um parceiro maravilhoso, companheiro, gentil, mas acho que eu o assustei com minhas crises. Quanto a James, penso que nunca deveríamos ter ficado juntos. Ambos estávamos apaixonados por Sarah Connor, a personagem de O Exterminador do Futuro, série que ele dirigiu. E isso nada tinha a ver com o James Cameron e a Linda Hamilton de carne e osso. Devo reconhecer, porém, que meu distúrbio contribuiu para o fim do casamento. Lembro que uma vez James me disse: "Eu gosto da Linda que deixo pela manhã, mas nunca tenho certeza de quem eu vou encontrar em casa à noite". Dependendo do que acontecesse durante o dia, se qualquer coisa me estressasse, eu fazia disso uma tempestade. Simplesmente não conseguia esquecer, perdoar ou me livrar do sentimento ruim. Deve ser exaustivo para uma pessoa conviver com alguém com alterações excessivas de humor. Nunca se sabe o que vem em seguida.


Veja – A senhora defende um programa de bem-estar para doentes mentais. Do que se trata?
Linda – É importante que as pessoas com doenças mentais não cuidem só da cabeça. Esses pacientes vivem, em média, de oito a vinte anos menos. É preciso encorajá-los a ter um estilo de vida mais saudável. Parte do programa de recuperação que defendo é desenhada para combater os efeitos colaterais dos remédios, com boa alimentação e exercícios físicos. Os medicamentos podem ser incrivelmente efetivos, mas também devastadores por causa dos efeitos colaterais.

Veja – A senhora se sente curada?
Linda – Eu gostaria que as pessoas com doenças mentais pudessem experimentar a vida que levo hoje. Acredito que o que conquistei não pode mais ser tirado de mim. É claro que tenho dias ruins, como todo mundo. Mas sei que mesmo os maus momentos podem ser bons, desde que se aprenda com eles. Minha infelicidade, no fim das contas, me fez uma pessoa bem melhor. O meu sucesso como atriz um dia será esquecido. Mas o sucesso que obtive como ser humano permanecerá para sempre comigo.

Fonte: http://veja.abril.com.br/

Mais da metade dos bipolares não recebe tratamento


Estudo publicado no periódico Archives of General Psychiatry mostra aquilo que todos nós já constatamos em nossas clínicas. A dificuldade em identificar os quadros bipolares e tratá-los de acordo é hoje um dos principais desafios da psiquiatria. Convencer pacientes aparentemente deprimidos de que precisam tomar estabilizadores de humor e não antidepressivos é o desafio seguinte. É uma pena constatar isso, pois o transtorno bipolar, se tratado precocemente e de maneira adequada, pode ter um curso benigno, enquanto não tratá-lo pode condenar a pessoa a passar o resto de sua vida com depressões e péssima qualidade de vida. Espero que matérias como esta sirvam de alerta para médicos e pacientes.

Mapeamento mundial sobre transtorno bipolar mostra que menos da metade dos doentes recebe tratamento.

A pesquisa avaliou mais de 60 mil pessoas em 11 países como Brasil, EUA e China, das quais 2,4% apresentavam o transtorno. O resultado foi publicado no "Archives of General Psychiatry".

Os pesquisadores escolheram amostras aleatórias em suas regiões e fizeram entrevistas com base em critérios da Organização Mundial da Saúde para o diagnóstico.

O transtorno bipolar é caracterizado por oscilações de humor entre euforia (ou mania) e depressão. Pode causar irritabilidade, agressividade e ideias suicidas.

BRASIL

Apesar da gravidade dos sintomas, só 42,7% das pessoas diagnosticadas no mapeamento estavam sendo tratadas por um especialista. No grupo de países que incluía o Brasil, esse índice era ainda menor: 33,9%.

"A pessoa não tem acesso ao sistema de saúde, ou acha que os sintomas são resultado do uso de drogas", diz a psiquiatra Laura Helena de Andrade, coordenadora de epidemiologia do Instituto de Psiquiatria da USP e responsável pela coleta de dados na Grande São Paulo.

Segundo ela, é comum um bipolar receber diagnóstico de depressão, porque a manifestação de euforia pode ser mais leve. "E é muito mais comum a pessoa só ir buscar tratar a depressão, porque ela incomoda mais. Mas, se o médico ministrar antidepressivos, pode desencadear episódios de mania, com aumento da irritabilidade", diz.

Segundo o estudo, esse transtorno é mais incapacitante do que cada um dos tipos de câncer, e mais até que Alzheimer. Bipolares sofrem por mais anos com os prejuízos do transtorno, em comparação aos outros doentes.

O dado foi extraído de um relatório da OMS segundo o qual a bipolaridade representa 0,9% das doenças incapacitantes, logo à frente do Alzheimer, com 0,8%.

"A pessoa já começa a ter problemas na adolescência ou no começo da vida adulta e, ao longo do tempo, vai perdendo habilidades como capacidade de raciocínio, memória e concentração", diz o psiquiatra Ricardo Moreno, que coordena o programa de transtornos afetivos do Instituto de Psiquiatria.

O psiquiatra Eduardo Tischer, da Unifesp, acrescenta: "A doença é crônica, e leva meses para que o paciente consiga se restabelecer. Enquanto isso, ele sofre prejuízos no trabalho e suas relações familiares pioram".

O não tratamento só piora os sintomas. "A pessoa tem mais chances de recorrer a drogas, álcool e de cometer suicídio", afirma Tischer.




Portador pode ter problemas com drogas e álcool


Além de destacar a taxa de prevalência da doença, o levantamento encontrou outros problemas mentais associados à bipolaridade.

Três quartos das pessoas que tinham o distúrbio apresentavam também outra condição psiquiátrica, como ansiedade e abuso de álcool e drogas.

Para Ricardo Moreno, o consumo dessas substâncias se explica pela alta impulsividade, especialmente durante a mania.
Além disso, 16% dos bipolares já tentaram suicídio alguma vez na vida.

"O risco é maior porque a depressão bipolar costuma ser mais grave e, geralmente, associada a comportamentos impulsivos", diz Andrade.



Fonte:http://www.correiodoestado.com.br/noticias/mais-da-metade-dos-bipolares-nao-recebe-tratamento_104286/

23 de março de 2011

O que é? - Obsessão

A proposta da coluna "O que é?" é trazer, numa linguagem objetiva e rápida, informações sobre os principais transtornos mentais, para que o leitor possa ter em poucas palavras o que de fato é importante saber.



Obsessões ou pensamentos obsessivos são idéias recorrentes/repetitivas, intrusivas/invasivas, geralmente de conteúdo aversivo/repugnante/negativo, que invadem a consciência da pessoa e produzem ansiedade, angústia, sentimento de culpa, medo e desespero.


A pessoa fica muito incomodada com os pensamentos, pois não consegue se desligar deles naturalmente, eles interferem nas suas atividades cotidianas, na capacidade de concentração e de planejamento. A pessoa fica remoendo aquelas idéias sem parar, podendo levar ao esgotamento ou estafa mental, causar insônia, tristeza, sensação de enlouquecimento e até ideação suicida.


Os tipos mais comuns de pensamentos obsessivos são:


- idéias de algo de ruim ou catastrófico poderá ocorrer a alguém da família ou a pessoa próxima (acidente, assalto, sequestro, morte, etc) - essas idéias podem ter explicações baseadas na realidade em que se vive, como morar em local violento ou perigoso, mas a preocupação é nitidamente exagerada e domina a consciência e o comportamento da pessoa num dado momento.


- idéias de ciúmes e de posse (achar que está sendo traído, que o companheiro ou companheira pode ter outra pessoa) - esses pensamentos podem levar a comportamentos compulsivos, como ligar repetidamente para a pessoa, seguí-la, controlá-la à distância, monitorá-la excessivamente, etc.


- idéias de contaminação e sujeira, podendo gerar rituais compulsivos de limpeza.


- idéias de dúvida, gerando a necessidade de verificação ou confirmação (será que fechei a porta? Será que deliguei o gás? Será que a pessoa me deu a informação correta? Será que li certo?)


- idéias sexuais aversivas (incesto, pedofilia, pornografia), que geram muito sentimento de culpa e a necessidade de pedir perdão, se purificar, rezar.


- vários outros tipos: a classificação como idéia obsessiva está mais na forma do que no conteúdo, portanto, o que existe em comum é o fato de serem idéias repetitivas, invasivas, que incomodam a pessoa, mas que ela não consegue parar de pensar. Existem alguns tipos em que a pessoa fantasia uma história, como se viajasse por um mundo próprio, geralmente mágico, com riquezas, posses, poderes, passa horas pensando nisso, mas não perde a conexão com a realidade, se indagada sabe não se tratar de um fato verídico. Aliás, muitas vezes os pacientes não comentam sobre essas idéias. É diferente do delírio, em que a pessoa realmente acredita naquilo.


As idéias obsessivas podem também vir ainda na forma de ruminações sobre acontecimentos do presente, em que a pessoa fica pensando naquilo repetidamente, sem conseguir desviar-se, a ponto de lhe causar estresse ou angústia, interferir em outras atividades cotidianas.


Uma característica importante é que as obsessões tendem a piorar muito com o estado de ansiedade, ou seja, se a pessoa estiver sob estresse, ela pode ter mais pensamentos obsessivos do que em períodos mais amenos. Como a própria obsessão gera estresse, isto provoca uma reação em casacata que culmina num ciclo vicioso em que obsessões são capazes de gerar mais obsessões.

O pensamento obsessivo é erroneamente confundido com TOC, Transtorno Obsessivo Compulsivo, transtorno em que pensamentos obsessivos são uma característica central.

Na verdade, pensamentos obsessivos ocorrem em vários outros transtornos mentais, podendo se afirmar que a maioria dos pacientes com pensamentos obsessivos não tem TOC, mas um outro transtorno, cuja obsessão faz parte. Portanto, somente a avaliação médica adequada poderá chegar ao diagnóstico.

Listamos as doenças que mais comumente apresentam pensamentos obsessivos como um dos sintomas importantes:

- Transtornos de humor, principalmente do espectro bipolar (TBH, ciclotimia), mas também depressão.

- Psicoses, como Esquizofrenia, Transtorno Esquizoafetivo, dentre outros (atenção, pois pensamentos obsessivos são comuns no início dos quadros, antes mesmo do primeiro surto).

- Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC)

- Alcoolismo - principalmente após muitos anos de doença, sendo mais comuns as obsessões de ciúme e posse.

- Fobia Social - pensamentos obsessivos de dúvida, sobre o que os outros estão pensando dele, em função da ansiedade social.

- Transtorno do Pânico - pensamentos obsessivos acerca de passar mal e ter uma nova crise, de que algo ruim irá acontecer.

- Ciúme patológico

- Transtornos de Tiques e Sindrome de Gilles de la Tourette, comumente estão associados a obsessões e compulsões.

- Transtornos de Personalidade

- Transtornos Alimentares, como anorexia e bulimia, principalmente na forma de pensamentos repetitivos acerca da imagem corporal.

- Dependência química

- Várias outras

É importante compreender, portanto, que as obsessões são sintomas que podem ocorrer em quase todos os transtornos mentais e que a maneira de tratar depende de cada transtorno de base. Em geral, melhorando do transtorno de base, as obsessões também melhoram. A psicoterapia mais indicada para o tratamento dos sintomas obsessivos é a Cognitivo-comportamental.

21 de março de 2011

Tal pai, tal filho?


Duas reportagens recentes abordaram o efeito que quadros psiquiátricos nos pais podem ter sobre os filhos, trazendo consequências negativas para a saúde mental dos pequenos, seja já na infância ou, posteriormente, na adolescência e vida adulta. Vale a leitura e a reflexão.

Pais depressivos batem mais em crianças de até um ano

Depressão pós-parto da mãe e desemprego do pai são as causas do comportamento violento

Pais depressivos tendem a bater muito mais em seus filhos pequenos do que os pais que não sofrem do problema. Uma pesquisa divulgada nesta semana apontou que ao menos 40% dos pais que sofrem da doença batem nos filhos de até um ano, contra 13% dos pais que não apresentam a depressão. O estudo foi divulgado no jornal Pediatrics.

Uma das causas apontadas, segundo o autor do estudo, Neal Davis, da Universidade de Michigan, indica problemas de depressão pós-parto e a depressão pela falta de emprego.

- A depressão entre pais está fortemente vinculada às taxas de desemprego, que são muito maiores agora do que uma década atrás.
E a depressão pós-parto, mais comum em mulheres, tem potencial de atingir até 25% delas após o parto, segundo estimativas. Nos casos mais graves, levam a comportamentos extremos, que fazem as mães matarem os próprios filhos.

O resultado partiu de uma análise de dados de 1.746 pais extraídos de um exame realizado em 16 grandes cidades dos EUA, entre os anos de 1999-2000. Os homens foram questionados sobre sintomas de depressão, hábito de bater nos filhos e suas interações com crianças de até 1 ano.

Globalmente, 7% deles já tinham expressado sintomas recentes de depressão.

A Academia Americana de Pediatria e especialistas em desenvolvimento infantil advertem contra bater em crianças de qualquer idade. Outros estudos têm mostrado que as crianças que são espancadas correm risco de serem abusadas fisicamente e se tornarem agressivas.

Os pesquisadores disseram que palmada é especialmente preocupante em crianças, porque a medida corretiva tem muito mais chance de machucar a criança, sem ajudar, de fato, em sua educação. “[as crianças] não conseguem entender a conexão entre seu comportamento e a subsequente punição", diz Davis.

Fonte: R7.com



Depressão pós-parto da mãe e desemprego do pai são as causas do comportamento violento

Depressão de pais pode prejudicar os filhos


Pais deprimidos podem ser negativos em relação aos seus filhos, fazendo com que eles se estressem mais facilmente.

A descoberta foi feita em um estudo que tinha como objetivo analisar a relação entre o temperamento nos primeiros anos de vida da criança e os riscos de desenvolvimento de depressão. Como a depressão infantil é uma doença rara nos anos iniciais, as crianças começaram a participar do estudo quando tinham três anos, para que os cientistas pudessem acompanhar o desenvolvimento da doença caso ela surgisse.

Como no período inicial do estudo nenhuma das crianças apresentava sinais de depressão, os cientistas fizeram experimentos para medir como situações estressantes as afetavam. Intercalando os experimentos com jogos e atividades divertidas, os pesquisadores analisaram o comportamento dos participantes enquanto eles lidavam com o estresse ou a frustração. Em um teste, a criança era deixada sozinha em uma sala onde entrava um homem estranho que tentava conversar com ela. Em outro, ela recebia uma caixa transparente com um brinquedo trancado dentro e um molho de chaves que não tinha a chave que podia abrir a fechadura. Após os experimentos os pesquisadores mediram os níveis de cortisol – o hormônio do estresse – em amostras de saliva das crianças.

As mães foram mais presentes no estudo. Poucos pais participaram do estudo, e por isso não foi possível analisar bem como eles lidavam com seus filhos. As mulheres foram avaliadas enquanto interagiam com a criança em atividades e tarefas. Atenção especial foi dada a qualquer hostilidade que a mãe dirigisse à criança, como comentários negativos ou sinais de raiva e frustração.

Os resultados dos testes mostraram que as crianças que tinham os níveis mais altos de estresse eram filhas de mães que tiveram depressão nos primeiros três anos de vida do filho. As crianças de mães que tinham comportamentos hostis durante as atividades compartilhadas apresentaram o mesmo resultado.

O estudo sugere uma abordagem das formas como a depressão dos pais pode afetar a criança e até mesmo levá-la a desenvolver a doença. A co-autora da pesquisa Lea Dougherty, da Universidade de Maryland, acha que a descoberta é “bem esperançosa, porque se nós nos concentramos nos cuidados dos pais, nós podemos realmente intervir cedo e ajudar pais com depressão crônica quando eles têm filhos”.


Fonte: UOL

14 de março de 2011

O que é? - Sindrome do Pânico


A proposta da coluna "O que é?" é trazer, numa linguagem objetiva e rápida, informações sobre os principais transtornos mentais, para que o leitor possa ter em poucas palavras o que de fato é importante saber.


O primeiro diagnóstico escolhido é a Síndrome do Pânico.


Caracterizada na maioria das vezes por ataques súbitos de falta de ar, taquicardia, sudorese, tremores, sensação de morte ou doença (p.ex. achar que está tendo um infarto), geralmente auto-limitados e que não duram mais do que 20 minutos. Melhora com tranquilizantes ou com o simples atendimento médico, seja no hospital ou consultório, mas tende a ser recorrente, com crises repetidas ao longo da semana ou num mesmo dia, isto se não for tratada logo. Outra complicação que vemos é o medo que a pessoa desenvolve de sair sozinha por receio de passar mal, de frequentar lugares fechados ou com muita gente, acreditando que naquele ambiente será difícil obter socorro. A preocupação de quem sofre da Sindrome do Pânico é sempre de não ter a crise e ela pode passar a monitorar seus batimentos cardíacos e respiração, disparando um alerta no primeiro sinal de anormalidade. Sendo assim, podem ocorrer ataques de pânico desencadeados por exercícios físicos, relação sexual ou estresse.


Uma outra apresentação, bem menos comum (cerca de 10% dos pacientes), é na forma gastrointestinal, através de ataques de diarréia e/ou vômitos, geralmente precedidos por cólicas ou enjôos que fazem a pessoa buscar um banheiro rapidamente. Esses pacientes geralmente procuram gastroenterologistas e alguns são diagnosticados com Síndrome do cólon irritável. O diagnóstico é mais difícil do que na forma respiratória, porém este tipo também gera o comportamento evitativo, como deixar de sair ou ter medo de sair com receio de ter uma crise e não conseguir achar um banheiro a tempo e também pode ser desencadeada pelo estresse (p.ex. uma reunião de negócios ou uma prova). As crises também são de curta duração, geralmente o paciente se sente aliviado depois que vai ao banheiro, mas permanece o medo de uma nova crise.


O tratamento envolve medicação (ansiolíticos e antidepressivos) e psicoterapia e o prognóstico é muito variável, a maioria tem boa resposta, mas alguns podem precisar de um tempo mais prolongado de tratamento, principalmente se ocorrer agorafobia (medo como de sair à rua ou de frequentar locais públicos).


Um aspecto importante e muitas vezes negligenciado é que a Síndrome do Pânico pode preceder outros transtornos mentais por meses ou até anos, principalmente os Transtornos de humor (depressão, ciclotimia ou transtorno bipolar). Mais raramente pode preceder a esquizofrenia e o transtorno esquizoafetivo, por isso a necessidade do paciente manter seu acompanhamento médico, mesmo depois de suspensa a medicação. O psiquiatra pode decidir tratar o transtorno de base (se este já for aparente no momento dos ataques de pânico), o que melhora muito os sintomas.