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Caro Leitor,

quero convidá-lo a acessar meu novo site leonardopalmeira.com.br. Lá você vai encontrar todo o conteúdo deste blog além de informações de utilidade pública, um manual prático para pacientes e muitas novidades.

O blog continuará no ar, porém novos artigos serão publicados somente no site oficial. Espero que gostem!

21 de agosto de 2009

Gliose: você sabe o que é?



Tenho recebido muitos e-mails com perguntas sobre o significado de gliose e microangiopatia ateroesclerótica. Isto porque é comum este achado em exames de ressonância magnética cerebral em pessoas acima de 50 anos de idade. Já respondi inclusive a um depoimento deixado no blog a respeito, mas como é um assunto recorrente, resolvi abordá-lo melhor aqui.

Gliose é uma alteração da substância branca do cérebro evidenciada na ressonância magnética por lesões hiperintensas (esbranquiçadas) nas sequências FLAIR, geralmente proveniente de microangiopatia cerebral (doença de pequenos vasos do cérebro). Ela é decorrente de doença ateroesclerótica (formação de placas de ateroma na parede das artérias) de pequenos vasos.

Alguns fatores de risco são bem conhecidos, como tabagismo, alcoolismo, colesterol alto, obesidade, sedentarismo, hipertensão, diabetes e outras doenças que acometem vasos (vasculites, doenças reumáticas como Lupus). Existem outras doenças que podem cursar com gliose no SNC: Cadasil, p.ex., é uma doença hereditária (familiar) que cursa com essas alterações em pessoas em idade mais jovem. Estudos têm demonstrado que essas lesões também podem ocorrer com maior freqüência em pessoas portadoras de transtornos psiquiátricos, dentre eles o transtorno bipolar, a esquizofrenia, as depressões crônicas e a dependência química. Outros estudos já associaram também esses achados à enxaqueca.

A maior parte dos casos são assintomáticos, ou seja, a pessoa não sente nada ou o que sente não pode ser relacionado às glioses. Mas a simples presença delas indica a necessidade de algumas medidas preventivas, como combater o sedentarismo, controlar o colesterol, reduzir o uso de substâncias químicas como tabaco e álcool, controlar bem a pressão e os níveis de glicose no sangue, evitar o estresse, dentre outras medidas, como hábitos saudáveis de vida. Isto porque, com o avançar da idade, as glioses podem se transformar em um problema maior.

O número de lesões, sua localização, a idade do paciente e outros fatores relacionados ao envelhecimento cerebral podem predispor o paciente com glioses a uma doença degenerativa cerebral, como a demência vascular. É importante frisar que nem todo o paciente desenvolverá demência e que o diagnóstico de demência deve ser, antes de tudo, clínico. É preciso avaliar as funções cognitivas, como memória e atenção, para saber se aquela pessoa tem ou não demência.

O mais comum, porém, é o paciente com gliose ter alguma perturbação do humor, seja ela pre-existente ou consequência das glioses. Já atendi pacientes que não tinham os fatores de risco que citei, que não tinham doenças clínicas que justificassem as glioses, mas que possuíam uma história de depressão e transtono de humor ao longo da vida.

O termo “depressão vascular” tem sido utilizado para esses casos. Os pacientes podem evoluir com sintomas depressivos e ansiosos (crônicos), irritabilidade, intolerância, com algum grau de impulsividade. Em geral esses pacientes têm glioses na substância branca do lobo frontal em quantidade moderada a alta. O quadro é mais exuberante quando existem glioses nos núcleos da base, como o núcleo caudado. Outros sintomas que podem ocorrer são tremores, perda de equilíbrio e dores de cabeça.

É importante que o paciente procure um psiquiatra para uma avaliação e tratamento. A depressão vascular tem algumas peculiaridades, uma delas o fato de não responder bem a antidepressivos, mas existem outros medicamentos capazes de controlar os sintomas e devolver a qualidade de vida aos pacientes.

Outro aspecto crucial e de caráter preventivo é a preocupação com a neuroproteção, ou seja, estar atento para os riscos de um envelhecimento cerebral mais acelerado e para a ocorrência de demência. O paciente deve ser acompanhado evolutivamente quanto às suas funções cognitivas, como memória e atenção, para iniciar precocemente uso de medicamentos neuroprotetores e anti-oxidantes que o protejam melhor de uma doença degenerativa.

Glioses possuem alguns sinônimos como: microangiopatia isquêmica, ateroesclerose cerebral, doença ateroesclerótica cerebral.

19 de agosto de 2009

Você sabe o que é psicopatia? Assista a entrevista na WTN

Dr. Leonardo Palmeira fala sobre psicopatia para o jornalista Luiz Santoro no programa WTN Entrevista, da Web TV WTN.

Clique no link e assista: http://www.wtn.com.br/entrevista/index.php?id=1602

7 de agosto de 2009

Notícias sobre Esquizofrenia - Julho/09

Do Portal Entendendo a Esquizofrenia
20/07/09 - Esquizofrenia está associada à maior mortalidade por câncer - Pesquisadores da França publicaram um estudo na revista Cancer que alerta sobre um maior risco de mortalidade de câncer entre esquizofrênicos, especialmente de mama nas mulheres e de pulmão nos homens. O estudo avaliou 3470 pacientes desde 1993 e o câncer foi a segunda causa de morte entre esquizofrênicos, com uma taxa de mortalidade quatro vezes maior do que na população geral (14%). Os pesquisadores atribuem a maior mortalidade devido à demora no diagnóstico e, consequentemente, ao tratamento em estágios mais avançados. O estudo deve servir de alerta para a importância de exames periódicos nesta população e derruba o mito de que esquizofrênicos tinham menos câncer do que a população geral. Isto parece ser verdade apenas no caso do câncer de pele, devido à menor exposição solar (CancerConsultants.com)...Leia Mais.

02/07/09 – Estudo mapea variações genéticas da esquizofrenia - Quase meio milhar de pequenas variações genéticas seriam responsáveis por ao menos um terço do risco de desenvolvimento de esquizofrenia. É a conclusão de três estudos publicados ontem pela revista científica britânica "Nature". Uma parte da pesquisa, realizada com cerca de mil pacientes, sugere também a existência de raízes genéticas comuns entre a esquizofrenia e o transtorno maníaco-depressivo, também conhecido como transtorno bipolar. A análise dos resultados dos três trabalhos, que utilizaram conjuntamente uma amostra de 8.014 pessoas com esquizofrenia e outras 19.090 pessoas não acometidas pela doença, ressalta em particular uma área do cromossomo 6 conhecida por ter genes vinculados à imunidade e às infecções. Também foram analisados genes que intervêm no controle da ativação ou desativação dos outros genes. Essa associação poderia explicar como fatores do contexto em que a pessoa vive afetam os riscos de desenvolvimento de esquizofrenia, segundo o Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos (NIMH). Mais de 450 variações na zona suspeita do cromossomo 6 e uma área do cromossomo 22 figuram entre os locais genéticos que mostram vínculos mais intensos com a esquizofrenia. O grupo SGENE, que também investiga a esquizofrenia, apontou ainda uma associação entre variações em cromossomos para a elucidação científica do déficit de atenção (TDAH) e das falhas de memória (Jornal Estado de São Paulo)...Leia Mais

Órgão norte-americano inicia projeto pioneiro para mudar o curso da esquizofrenia e acabar com as formas crônicas da doença.


Apesar da disponibilidade de tratamentos efetivos, como medicações antipsicóticas e intervenções psicossociais, as pessoas com esquizofrenia muitas vezes não recebem o tratamento adequado até que a doença se instale completamente, com episódios recorrentes de psicose, resultando em muitas hospitalizações e em desajustes que duram por décadas. Desemprego, problemas familiares, falta de moradia e hospitalizações prolongadas fazem da esquizofrenia uma doença custosa para a pessoa, sua família e para a comunidade como um todo.

O início do tratamento parece influenciar muito o prognóstico da esquizofrenia, tanto que estudos de intervenção precoce, preferencialmente antes de um primeiro surto, têm ganhado espaço cada vez maior na comunidade científica. Além de ser importante um diagnóstico rápido, é fundamental que o tratamento inicial seja o mais abrangente e eficaz possível, tendo como alvo a recuperação plena da pessoa, com combate efetivo dos sintomas psicóticos, reabilitação para as atividades sociais e abordagem à família.

Por isso, o Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA (NIMH*) criou o projeto RAISE (“Recovery After na Initial Schizophrenia Episode” – Recuperação após um episódio inicial de esquizofrenia), focado na recuperação após um primeiro episódio. “Esta nova iniciativa ajudará a determinar se intervenções que começam precocemente e são mantidas ao longo do tempo tornam possível que a pessoa com esquizofrenia retorne ao trabalho e à escola”, afirma Dr. Thomas Insel, diretor do NIMH.

O projeto RAISE testará diversas abordagens terapêuticas que envolvem intervenção imediata num primeiro diagnóstico, incorporando sistematicamente as opções hoje disponíveis, como medicamentos, tratamentos psicossociais e reabilitação, incluindo ensinar a pacientes e familiares como manejar a doença. A esperança é que terapias coordenadas façam uma grande diferença na aceitação do tratamento por parte do paciente e na sua eficácia a longo prazo.

Diversas agências e organizações norte-americanas envolvidas no cuidado de pacientes esquizofrênicos, como organizações governamentais, privadas e não-governamentais, participarão da elaboração das intervenções a serem avaliadas pelo projeto. Dois grandes grupos de pesquisa, liderados pelo Dr. John M. Kane, do Feinstein Institute for Medical Research, e pelo Dr. Jeffrey Lieberman, do New York State Psychiatric Institute e da Universidade de Columbia, se encarregarão de desenvolver e testar as potenciais intervenções, que serão aplicadas inicialmente em mais de 30 clínicas espalhadas por todo os EUA.

“Dependendo dos resultados, o projeto RAISE pode representar uma mudança de paradigma na maneira como a esquizofrenia é tratada. Nosso objetivo principal é acabar com a forma crônica, tão custosa e devastadora para a pessoa, para seus familiares e para toda a sociedade”, disse o Dr. Robert Heinssen, um dos diretores do projeto. Está previsto um gasto inicial de 40 milhões de dólares, que será custeado pelo Instituto Nacional de Saúde Mental com o fundo do American Recovery and Reinvestment Act (ARRA).

Sabemos que a recuperação plena da esquizofrenia é hoje uma realidade e que muitos pacientes, que antes desenvolveriam formas crônicas e incapacitantes, conseguem retomar suas vidas graças aos tratamentos existentes. Entretanto, a forma de tratar varia muito caso a caso, nem todos os recursos são utilizados e alguns são pouco disponíveis à população.

Ademais, é imprescindível para a evolução de nossa prática que a concepção da esquizofrenia acompanhe o avanço das pesquisas e que deixemos de lado a idéia de doença degenerativa ou que caminha inexoravelmente para a deterioração psíquica, como se postulou há um século. A mudança de atitude por parte de terapeutas, familiares e pacientes é um primeiro passo para reunir forças visando a recuperação. Iniciativas como a norte-americana são muito bem vindas, pois podem mostrar ao resto do mundo a forma de se organizar um tratamento complexo e multidisciplinar a fim de se absorver o máximo de eficácia e retorno para nossos pacientes.

Enquanto os resultados do projeto RAISE não chegam, reunimos alguns tópicos para reflexão de como o tratamento tem sido conduzido nos dias de hoje:

1) Início do tratamento – ainda se protela muito a busca por um diagnóstico e um tratamento adequado. O ideal seria procurar uma avaliação psiquiátrica logo que surgirem os primeiros sintomas, como isolamento, desinteresse, idéias estranhas, desconfiança, comportamentos bizarros ou não-habituais para a pessoa.

2) Sintomas negativos – são pouco reconhecidos como parte da doença, mas deveriam ser alvo de tratamento tanto quanto os sintomas positivos. Para eles a medicação pode ter pouco efeito, sendo importante terapia de reabilitação e psicoterapia.

3) Família – a família tem pouco apoio e se sente perdida, sem saber como agir ou como resolver os conflitos do dia-a-dia, aumentando a sobrecarga e o estresse no ambiente familiar, fato que se associa muito a recaídas e internações. Há poucos programas de apoio e informação e não existe ainda a cultura de que esta forma de tratamento é tão importante quanto a medicação.

4) Medicação – os medicamentos devem combater com eficácia os sintomas e estabilizar o paciente para que seja possível a retomada de suas atividades. Muitos melhoram apenas parcialmente e permanecem com algum grau de sintoma e disfunção. É necessário avaliar se existe resistência ao medicamento e prosseguir com o objetivo de recuperação plena, utilizando antipsicóticos mais potentes e indicados em caso de refratariedade, se for o caso.

5) Cognição – outro tipo de tratamento pouco difundido entre nós, porém útil a pacientes com déficits cognitivos que interferem no funcionamento da pessoa, é a reabilitação cognitiva, para melhorar funções como atenção, memória, planejamento executivo e raciocínio.

6) Recaída – treinar pacientes e familiares para identificar sinais de recaída, orientando-os a como agir para evitar um novo surto. Pouco se fala de recaída e muitos são pegos desprevenidos.

*O NIMH faz parte do National Institutes of Health (NIH), que inclui 27 institutos e centros e é subordinado ao Departamento de Saúde e Serviços Humanos do governo federal dos EUA (equivalente ao Ministério da Saúde no Brasil).